quinta-feira, 8 de dezembro de 2016

'81 DeLorean DMC-12

E aí pessoal!!

Hoje escrevo sobre mais um astro do cinema. Não é novidade um carro que é sucesso no cinema, a ponto de virar um astro. Diga-se de Herbie, do "Se meu Fusca falasse" Love Bug. O o Ecto 1 do "Caça Fantasmas" Ghostbusters. Mystery Machine do Scooby Doo, a van GMC do A-Team, o KITT do Supermáquina, o Mustang guiado por Steve McQueen em Bullit, o sinistro Peterbilt Series 2 do Duel, o ônibus GM New Look do Velocidade Máxima Speed de 1994, os Batmóveis, os Aston Martins do 007... Enfim, posso passar o resto do post somente listando os carros, caminhões e o que seja que foram quase protagonistas. Mas, quero comentar de um carro que fez mais sucesso nos cinemas do que na vida real.

É o De Lorean DMC-12. Que 99% das pessoas que ouviram falar do carro, ouviram falar como a "Time Machine" do Dr. Emmett Brown. Muitos também conhecem apenas pelo nome da marca, De Lorean, mas o modelo chama-se DMC-12.

O DeLorean DMC-12 - Fonte: Wikipedia
O Time Machine no "Back to the Future" - fonte: dailymail.co.uk


Como nasceu o DMC-12?

A história do DMC-12 confunde-se muito com a da própria DeLorean. Uma das razões é a do DMC-12 ser o único modelo produzido pela empresa. E a outra, da forma como desenrolou e mesmo, veio a bancarrota.

O DMC-12 nasceu do sonho do engenheiro e ex-executivo da GM, John Zachary DeLorean. DeLorean foi um dos chefes de projeto de carros consagrados, como o Pontiac GTO, Firebird, GrandPrix e dos Chevrolet Nova e o Vega. Chegou a chefia da Chevrolet, a marca de volume da GM.

Com pouco menos de 50 anos, em 1973, deixou a GM e fundou a sua própria fabricante de carros, a DeLorean. Com aportes de diversos investidores, capitalizou cerca de USD200 milhões para abrir sua fábrica em Dunmurry, subúrbios de West Belfast, na Irlanda do Norte. Inicialmente, a fábrica seria em Porto Rico, mas o governo da Irlanda do Norte ofereceu um aporte de £100 milhões para que a fábrica se situasse no país.

John Zachary DeLorean ao lado de sua criação - Fonte: Dailymail.co.uk


Em 1976, o primeiro protótipo do DMC-12 foi apresentado ao público, da forma que conhecemos. O carro bradava que a revolução dos transportes havia chegado. Portas asa de gaivota (um recurso já mostrado pelo Mercedes 300SL "Gullwing" de 1955). Estrutura do carro em fibra de vidro com um chassis tipo espinha dorsal em aço. E toda a chaparia do carro com placas de aço inox, numa época que o aço carbono utilizado na fabricação de automóveis era de baixa qualidade e não era difícil ver carros relativamente novos com buracos de ferrugem em suas latarias. Dispensava pintura, mas era um terror lavar, limpar e executar eventuais funilarias.

O DMC-12 tá de portas abertas... Fonte: https://en.wikipedia.org/wiki/File:Gull_wings.jpg
O mecanismo da porta asa de gaivota incluiu uma grande empresa do mundo aeroespacial, a Grumman (hoje, Northrop-Grumman, fabricante dos lendários felinos de guerra como o F-14 Tomcat, F6F Hellcat e mesmo dos Mallards e Hawkeye). Uma barra e torção moldada e tensionada em criogenia e suportada por um tirante pneumático - quase que, um amortecedor de tampão de porta-malas de carros hatchback ou peruas.

Interior do DMC12 - Fonte: Wikipedia

O projeto envolveu nomes de peso na indústria automobilística. Além do próprio DeLorean, Giorgetto Giugiaro assinou o projeto. E Colin Chapman, o fundador da Lotus, refez boa parte da engenharia, inclusive a do chassis, adotando algo semelhante ao do Louts Esprit. Um chassis de aço em formato de "Y". A concepção, um coupé esportivo, dois lugares, motor e tração traseiros. Para os solteirões que chegaram lá. O carro foi anunciado com o preço inicial de USD25mil. Ou USD65mil nos valores de 2015. Hoje, os USD65mil seriam o dobro de um BMW série 3 de entrada nos EUA. Ou de uma BMW M3. Ou três Toyotas Corollas XLE (top de linha nos EUA) - preços de 26-10-2016 nos sites dos fabricantes.

Chassis com motor. Fonte: http://www.noroads.com/delorean/3281

Vista traseira do chassis sem motor. Fonte: http://www.noroads.com/delorean

Desde sua fundação até o primeiro carro, passaram-se oito anos. Os planos eram de início de produção em 1979. Mas, por problemas de engenharia e de finanças, apenas  em 1981, o primeiro DMC-12 deixou a fábrica.

O coração do DMC-12 é um motor Peugeot/Renault/Volvo 2.8 V6. O motor era chamado PRV. Ele era originalmente o motor do Renault 30, mas modificado a pedido da DMC. Ele era equipado com injeção eletrônica Bosch Jetronic (a mesma família da injeção do contemporâneo Audi Quattro). Apesar da litragem alta e da pompa de ser um motor em V, ele rendia somente 145hps. E poderia ter câmbio manual de 5 marchas ou automático de 3 marchas. Esse powertrain era produzido pela Renault na França.

Cofre do motor do DMC12 - Fonte: http://deloreantech.wikia.com/wiki/File:Delorean_Engine_Bay-2749.jpg
Motor PRV do DeLorean removido. Um monstrengo de grande. Porém, 145cv saíam dele. Fonte: http://www.noroads.com/ 

As revistas na época, como a MotorTrend, o avaliaram como um carro lento, para as pretensões de ser um GT e mesmo um esportivo. Acelerava de 0-60mph em 10.5 segundos. Seus concorrentes faziam cerca de 2 segundos a menos. Apesar de toda a pompa e do público alvo refinado, o carro tinha inúmeros problemas, de um carro de início de produção. Como as tão aclamadas portas asa de gaivota suspensas por um frágil amortecedor. Não raro a porta cedia pelo amortecedor não aguentar o peso das portas. Falha de vedação, fiações complicadas e uma infinidade de outras falhas de um primeiro modelo, de uma montadora iniciante.

E como contraponto de tantas aclamadas inovações, o DMC-12 nasceu já obsoleto. O motor era um dos itens mais criticados, sendo considerado muito fraco para o carro. Haviam itens de design um tanto anos 70, como a persiana na janela traseira e as lanternas traseiras em pequenos módulos, por exemplo, o Pontiac TransAm utilizou-se de lanternas semelhantes na metade dos anos 1970.

Dizer que, em termos de futuro, o design do DMC-12 está já bem ultrapassado. Diria que nem conseguiria se passar como um carro dos anos 1990. A começar até pelos faróis dianteiros, divididos em dois elementos, arranjados dois a dois, com lentes de vidro. Cara de carro dos anos 1980, não? Para-choques semi envolventes e destacados da carroceria. Um dos últimos carros brasileiros com para-choques não exatamente integrados à carroceria foi o Fiat Mille. Da década de 1980. Acho que podemos parar por aqui.

Vista traseira do DeLorean. Fonte: http://classiccarsdriven.com/delorean-dmc-12

Após acumular dívidas de USD37milhões, ter seu fundador John DeLorean preso acusado de tráfico de drogas e produzir cerca de 8700 unidades, a DeLorean fechou as portas no início de 1983. Muito pela crise do setor automobilístico americano. Mas a (má) fama conquistada pelo carro também foi fator contribuinte. A ponto de estar em algumas listas de "piores carros do mundo". Por exemplo, aqui: http://www.carophile.org/the-worst-cars-of-all-time

Uma segunda chance?

Muito devido à sua aparição na trilogia "De Volta para o Futuro", o DeLorean arrebanhou uma legião de fãs, mundo afora. A revista americana Road and Track inclusive o listou entre os dez carros mais legais do mundo que "morreram" antes de atingir seu real sucesso. (Detalhe, antes não tinha comentado algo como, ele estar na lista dos piores carros do mundo?).  Legais, não melhores. Talvez, injustiçados. O carro virou "cult", mas isto não melhorou sua performance ou fez as portas pararem de cair na cabeça dos seus donos.

Os clamores foram ouvidos. E "oficialmente" a fabricação do DMC-12 está na sua 2ª reencarnação. Uma empresa do Texas comprou os direitos de produção, imagem e nomes da viúva de John DeLorean, após um processo que se arrastou por mais de cinco anos. A produção, após vários atrasos, está prevista para 2017. Pretendem produzir cerca de 350 carros em seis anos, graças a uma lei nos EUA, aprovada recentemente, de veículos de baixo volume de produção. Porém, eles devem cumprir com as leis contemporâneas de emissões.

Inicialmente, será apenas um DMC-12 por mês, aumentando a produção para um por semana. Ou seja, de 4 a 5 por mês.

Esta empresa produzirá os veículos a partir do antigo estoque de peças da primeira DMC. E atualmente a empresa restaura e fornece peças para os DMC-12 rodando mundo afora. A idéia é inclusive produzir uma versão elétrica. Os exemplares restaurados custam em torno de USD65mil. Já as réplicas construídas do zero, custarão cerca de USD100mil.

Já há um formulário online para declaração de interesse no modelo. Topas?


O '81 DeLorean DMC-12 da Mattel.

A miniatura do DMC-12 foi lançada em 2010, na mainline. Em duas cores: a prata, clássica e a dourada, já comentada. Desde então, apareceu em outros anos, tanto como o DMC-12 como as versões da Time Machine. Em 2011, a Time Machine com as rodas em modo "rodar nas ruas" e a corrida para atingir as famosas 88mph para viajar no tempo, foi lançada na Mainline. Em 2015 foi a vez da Time Machine "Hover Mode", modo de voo.








As vistas da miniatura da HotWheels.


Os três foram projetados por Manson Cheung. Diz-se que ele é um grande fã do DeLorean e do "De volta para o futuro". Houve outras variantes para a Mainline, como a de portas abertas, limitada a 4000 unidades. Esta, um grande retrabalho sobre o molde original do DMC da HotWheels. Esta foi lançada na linha Collectors e tinha um grande nível de detalhamento e o máximo de fidelidade em relação ao real. O objetivo era fazer uma miniatura "definitiva" do DMC-12 para a Mattel.

A miniatura analisada é uma Mainline 2010, do ano de lançamento, prata. Além desta, neste ano, na Mainline, foram oferecidas nas cores dourada e preta.

As dimensões do DeLorean real são as seguintes:

Comprimento: 4216mm
Largura: 1857mm
Altura: 1140mm
Entreeixos: 2413mm

O DMC12 em escala 1:64 teria as seguintes dimensões:
C: 65,8mm
L: 29mm
A: 17,8mm
E: 37,7mm

A miniatura da HotWheels tem as seguintes dimensões:
C: 70,8mm (1:59)
L: 30,5mm (1:61)
A: 20,7mm (1:55)
E: 41,3mm (1:58)

Nestas dimensões, o DeLorean da HotWheels se aproxima mais da escala 1:60. Se as dimensões não são tão regulares, não acredito que o mesmo pode ser dito do nível de detalhes.

A mainline 2010 foi considerada uma das melhores nos últimos anos, entre os apreciadores e colecionadores. Pelo realismo e qualidade dos moldes e o esmero com detalhes das miniaturas. Pintura de luzes, emblemas entre outros. Porém, estamos dizendo de uma miniatura, com foco em produção em larga escala e não de uma réplica.

O DMC-12 da HotWheels não é diferente. Percebe-se o casting de boa qualidade, sem emendas aparentes. Além de detalhes, como a portinhola de combustível no capô (presente nos primeiros modelos e depois abolido nos modelos 1982/1983). Além dos recortes das portas asa de gaivota, entradas de ar do motor, na coluna B e base da coluna C. A Mattel preocupou-se em reproduzir também os relevo do recorte nas janelas laterais, uma vez que não era todo o vidro que abria. As únicas ausências mais notáveis são a dos retrovisores e dos limpadores de para brisas.

Detalhes do DMC12 da HotWheels
Esta mini ainda tem um detalhe interessante: a tampa do compartimento do motor, feita em plástico preto, abre. revelando, infelizmente, apenas a cobertura do motor. Mas é algo sempre bem vindo nestas miniaturas. Confesso que, até me mostrarem isto um dia em um encontro de colecionadores, não desconfiava que o cofre do motor abria.

Com a tampa traseira aberta, revelando detalhes do interior.
Vista do capô. Note a portinhola de combustível na parte esquerda do capô.
No quesito pintura, o meu exemplar é um prata, tentando reproduzir os painéis de aço inox escovado sem pintura do modelo original. Possui detalhes até acima da média da HotWheels, como luzes traseiras em três cores e ainda respeitando o layout do modelo original, luzes laterais, frisos, reprodução da grade dianteira e do parachoque preto como pinturas, não como parte do interior ou chassis, como é comum. E ainda, com uma reprodução do baixo relevo "DeLorean" no parachoque traseiro e o DMC na dianteira como no veículo real. Além das pinturas das entradas de ar do motor pretas. O único pecado, a meu ver, foi de alguns destes detalhes estarem tortos. Porém, o modelo já está acima da média neste quesito.

As rodas do modelo são do mesmo tamanho - na realidade, usava aro 14" na dianteira e aro 15" na traseira. Porém, caso seguisse as rodas padrão da HotWheels, creio que ficaria desproporcional e perderia a fidelidade. E utilizaram nesta miniatura, as rodas 10SP (dez raios), prateada. Na miniatura dourada, a roda foi dourada. A10SP prateada foi a mais utilizada nos DMC-12 da mainline, sendo ainda utilizadas as 5SP e a "borrachuda" TRR no Super THunt.

Conclusão:

O DMC-12 a meu ver, estreou muito bem na linha HotWheels, com um molde bem feito, bem detalhado e ainda com séries especiais fora da Mainline. Incluindo uma com as portas asa de gaivota funcionais. Sem contar ainda a Time Machine do "De volta para o futuro".  Assim como no carro real, muito do carisma deste modelo, creio ter vindo do seu uso no filme e o encanto de toda uma geração. Porém, para o colecionador mais atento, ou que coleciona os lançamentos na Mainline, acredito que foi coroado com uma bela miniatura, bem detalhada, com um molde bem feito e ainda projetada por um apaixonado pelo DeLorean.

Os anos seguintes, já não tiveram tanto "glamour", perdendo um pouco dos detalhes e também fugindo um pouco do carro original. Seria questão de custos? Ou mesmo, aquela "variada" básica na linha? Em 2015 ocorreu um fato curioso com a miniatura, que será explicado na próxima sessão.

Curiosidades!

Por que DMC-12?
O nome DMC-12 veio da ideia inicial do veículo custar, no final dos anos 1970, USD12mil.

Estrela de Cinema!
O DeLorean DMC-12 estrelou no filme "De Volta para o Futuro" em 1985. E fez mais duas aparições nos filmes da série. Desde então, o carro se tornou icônico. Seis veículos foram utilizados nas filmagens da trilogia. Três deles ainda existem. Um, foi destruído e outros dois foram abandonados e sucateados. Uma réplica de fibra de vidro foi usada para as tomadas em que o "Time Machine" voava. Esta também foi sucateada.

Miniatura "alternativa"
A Mattel ofereceu uma miniatura não autorizada do DeLorean na mainline 1981. Chamava-se Turismo. Foi oferecida até 1983. A história, de acordo com o Wikia da HotWheels é a seguinte. Bob Rosas, chefe de design da divisão de "boys" da Mattel, decidiu entrar em contato com a DeLorean para produzir em escala o DMC-12, que ganhava cada vez mais a atenção da mídia. A DeLorean deu um "OK" verbal, logo, um acordo de cavalheiros. A Mattel decidiu levar adiante o projeto. Ferramental pronto, baseado em algumas fotos liberadas do protótipo e alguns protótipos foram produzidos.

Porém, em determinado momento, a DeLorean decidiu por não mais autorizar a Mattel a produzir sua réplica. Com o ferramental pronto, Rosas convenceu os executivos da Mattel a alterar o molde e fabricar um modelo similar, mas que não lembrasse em detalhes o DMC-12. E assim nasceu o Turismo.

A outra curiosidade é que o DMC-12 da Mainline de 2015 faz uma homenagem ao Turismo, utilizando a mesma pintura do lançamento do modelo em 1981. Uma vermelha com faixas brancas e amarelas.
Turismo (1981) e o DMC12 (2015). Colagem com fotos da HotWheels Wikia e HotWheelsBR
Todas as cores, desde que sem pintura.
Em catálogo, apenas uma cor. Ou a ausência dela, já que o carro nem pintado era. Houve a produção de alguns DMC-12 dourados, por serem folheados a ouro. Foi uma campanha da DeLorean junto à American Express, junto aos membros VIPs. O plano eram vender 100 destes, mas apenas dois foram vendidos e há rumores que uma terceira unidade foi produzida, mas não vendida. Porém, virtualmente, todos os DMC-12 produzidos eram idênticos. Algumas mudanças estéticas ou oferecimento do câmbio manual ou automático e oi interior em cortes diferentes (preto ou cinza) eram as diferente opções de "personalização" do carro.

DMC-12 dourado - Fonte Wikipedia. By The original uploader was Lvtalon at English Wikipedia Later versions were uploaded by Chisholm4 at en.wikipedia. - Transferred from en.wikipedia to Commons., CC BY-SA 3.0, https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=1563333

Tenha o seu próprio Time Machine! E homologado!
Há um kit homologado pela Universal Studios para se converter um DMC-12 original no Time Machine do Dr Emmett Brown. E há um exemplar destes no Brasil. E o pessoal do Acelerados deu uma volta rápida com ele e Rubinho Barrichello ao volante.



Um abraço e muito obrigado!!

Fontes:
Revista Quatro Rodas - Edição Especial - Carros Clássicos - Modelos que marcaram época - Junho de 1996.
https://en.wikipedia.org/wiki/DeLorean_Motor_Company
https://en.wikipedia.org/wiki/John_DeLorean
http://www.dailymail.co.uk/news/article-2903015/30-years-later-Back-To-The-Future-car-legal-battle.html
http://www.carophile.org/the-worst-cars-of-all-time/37/
https://en.wikipedia.org/wiki/File:Gull_wings.jpg
http://deloreantech.wikia.com/wiki/File:Delorean_Engine_Bay-2749.jpg
http://www.noroads.com/delorean/3281/?content=20070722
http://www.kirchgessner.net/dmc/technical.html
http://www.roadandtrack.com/car-culture/classic-cars/news/a28016/new-delorean-replicas-coming/
http://www.roadandtrack.com/car-culture/g6779/greatest-failed-cars/?slide=1
http://hotwheels.wikia.com/wiki/'81_DeLorean_DMC-12
http://hotwheels.wikia.com/wiki/Back_to_the_Future_Time_Machine
http://hotwheels.wikia.com/wiki/Back_to_the_Future_Time_Machine_-_Hover_Mode
http://hotwheels.wikia.com/wiki/Turismo

domingo, 23 de outubro de 2016

Toyota AE-86 Corolla



Salve leitores do Garagem! Como vão?

Depois de um tempo sem postar, eis que volto com uma postagem com certo gosto pessoal. Hoje escrevo sobre mais um carro japonês. Aqui nós brasileiros o conhecemos com um sedan familiar, confortável e não muito lembrado como um esportivo. Mas esta versão é considerada quase uma lenda entre os admiradores dos carros japoneses esportivos. Trata-se do Toyota AE86. Conhecido pelos nomes Corolla Levin ou Sprinter Trueno.  O Levin era a versão com faróis fixos, menos conhecida por aqui, enquanto que o Trueno tinha os faróis escamoteáveis. E ambos eram oferecidos na versão cupê 3 volumes e 2 portas e a 2 volumes e 3 portas liftback, algumas vezes chamada de hatchback. Diferente dos Corollas que conhecemos, o AE86 é uma versão com tração traseira. Algo difícil de nós brasileiros imaginarmos e também termos como opção de compra (infelizmente).

O AE86 foi lançado em 1983, baseado na quinta geração do Corolla, a E80. Por conta da nomenclatura da versão, o AE86 é conhecido também como Hatchi-Roku, em tradução live, Oito-meia. Foi produzido pela Toyota no Japão entre 1983 e 1987.

Toyota Sprinter Trueno Liftback (3 doors) AE86. Uma réplica do Hatch-Roku do Initial D. Fonte: http://s289.photobucket.com/user/GetMePower/media/Cars/InitialD.jpg.html
Este Corolla é equipado, no geral, com um motor 1.6 de 4 cilindros, a família 4A e suas variações, de origem Toyota. Este propulsor aspirado gerava até 128cv, dependendo da versão. A mais potente destas, a 4A-GE, com injeção eletrônica de combustível. Havia uma versão carburada de 90cv, a 4A-C. Posteriores modificações pelos proprietários criaram motores com supercharger e que por sinal eram oferecidos em outras linhas da Toyota. E o AE86 utiliza um câmbio mecânico de 5 marchas ou uma automática de 4 marchas.

Além do AE-86, havia ainda o AE-85, com motor carburado 1.5 de 83cv (3A-U) e esta variante era conhecida também como Hatchi-Go, ou Oito-cinco. Externamente, lembrava muito o AE86, mas os refinamentos mecânicos, incluindo injeção eletrônica, o câmbio e embreagem hidráulica, o limited slip differential (LSD), refinamentos no acabamento e motores faziam toda a diferença. Em resumo, o AE86 era performance. O AE85, economia. E também oferecido na versão Corolla Levin e Sprinter.

Toyota AE86 - Corolla GT-S 2 doors - USA (Sprinter Trueno Coupé) - By Jeff lange at English Wikipedia - Source: Photograph taken in Kelowna in 1988 of my own vehicle. Originally from en.wikipedia; description page is/was here., Public Domain, https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=1476504
Toyota Corolla Levin (AE86) 1986 - 3 doors - Fonte: Carthrottle 
Toyota Corolla Levin (AE86) 1986 - 3 doors - Fonte: Carthrottle. Foto: Motortrend
Toyota Corolla GT-S (AE86) USA Spec com os faróis recolhidos. Fonte: https://i.wheelsage.org


Corolla GT-S Apex coupé (AE86) - USA Spec - https://i.wheelsage.org
O modelo Sprinter/Trueno seria oferecido dentro da linha Corolla até a sua substituição pelo E120 (o Corolla "Brad Pitt"), quando passou a ser oferecido numa versão quatro portas chamada Toyota Allex - que nada mais era que um Corolla E120 hatchback de 5 portas.

O Corolla Levin ou Sprinter Trueno ficou bastante famoso devido a ser um dos modelos mais populares na modalidade de corrida chamada Drift. Foi a escolha de uma das lendas da modalidade, Keiichi Tsuchiya "Drift King". Além de aparecer no anime "Initial-G", como o carro do protagonista. Muito da popularidade atual do modelo se deve ao anime/mangá. Após isto, o Hatchi-roku fez aparições no Need For Speed Underground, no Underground 2, nos jogos da franquia GranTurismo, no Fast and Furious 4 (Velozes e Furiosos) e virou miniaturas, inclusive HotWheels. Uma das versões, uma releitura do Hatchi-Roku da Fujiyama Tofu-Ten (Loja de Tofu Fujiwara). O AE86 do Initial-D. Com direito à "HotWheels" em katakana.

O Hatchi-Roku dos Fujiwara, no anime Initial D - Fonte: imcdb.org

Toyota AE86 na Mainline 2013 - Há a variação em branco também

Por conta disto, a popularidade - e o valor - do AE86 subiram bastante. Os preços de um hoje no Japão, giram em torno de USD11mil. Ou mesmo £11mil na Inglaterra.

Antes disto, esta versão foi uma espécie de "herói esquecido". Não era uma versão interessante, frente a alguns esportivos japoneses contemporâneos, como o Mazda RX-7, o Nissan 300ZX, Mitsubishi Starion ou mesmo o Toyota Celica. Somente décadas depois do fim de sua produção, o modelo foi reconhecido, pela sua esportividade, condução e mesmo, desempenho, dado o tamanho do motor. A própria Toyota reconheceu isto e fez um novo carro, que será apresentado mais adiante.

O Toyota AE86 Corolla - HotWheels.



A miniatura do Corolla AE86 foi lançada pela HotWheels na mainline de 2006. E juntamente com a versão de rodas "Faster than Ever", no qual o eixo tinha um revestimento de liga de níquel, reduzindo o atrito e fazendo as rodas deslizarem mais que os modelos normais. Porém, as duas versões foram vendidas, as com as rodas 5-Spoke vermelhas (5SP) e as Faster than Ever (FTE). 

Se levarmos ao pé da letra, na verdade, o nome correto deste modelo deveria ser Toyota AE86 Sprinter Trueno, visto que ele representa a versão de faróis escamoteáveis. E o modelo é o hatchback/fastback três portas. Com direito a um escape de grosso calibre e alargadores nos paralamas, de fato, representando os modelos de drifting "JDM" - Japan Domestic Market. Inclusive a direção deste AE86 é do lado direito (RHD), como é no Japão. Porém, no mercado Norte-Americano (Canadá e EUA), o Sprinter Trueno e o Corolla Levin foram vendido como Corolla SR5 ou GT-S, inclusive sendo assim apresentado em jogos, como o Need For Speed Underground 2 da EA.

Diz a história que seu criador na Mattel, Jun Imai, resolveu criar o modelo depois de assistir ao anime Initial D. E na primeira aparição do modelo na linha da HotWheels, ele estampou seu nome na pintura do modelo. Assim como em uma edição 5-Pack.

O modelo.

O modelo aparece com frequência na Mainline, desde o seu lançamento, apesar de um hiato de alguns anos, entre 2007 e 2012. Apareceu em duas coleções, na 5-Pack "Hot Tunerz" de 2010 e na coleção de 2012 "Cars of the Decade".

Os da análise, são dois da Mainline 2006, no ano de sua estréia. Na pintura branca. Um com as rodas 5SP vermelha e o outro a FTE. Além de branco, houve a variação cinza sólido, semelhante até a um primer. E os detalhes em vermelho e preto.

O Toyota AE86 Corolla da HotWheels em 2006. Note a assinatura de Jun Imai na soleira




Detalhe da traseira. Note o limpador do vigia traseiro.
Começando a análise pelas dimensões, o Toyota Sprinter Trueno (AE86) possui as seguintes dimensões:

Comprimento: 4200mm
Largura: 1630mm
Altura: 1340 mm
Entreeixos: 2400mm

Em escala 1:64:
Comprimento: 65,6mm
Largura: 25,5mm
Altura: 21mm
Entreeixos: 37,5mm

A miniatura da HotWheels:
Comprimento: 68,6mm (1:61)
Largura: 30mm (1:54)
Altura: 22,4mm (1:59)
Entreeixos: 39,6mm (1:60)

Esta miniatura da HotWheels teria a escala aproximada de 1:60, fugindo um pouco do padrão 1:64 da HotWheels, mas não que seja algo que destoará enormemente em uma coleção. E as dimensões aproximadas dentro das proporções, faz a miniatura não parecer "deformada", como ocorreu no passado, com algumas formas mais antigas.

Com relação ao modelo em si, o AE86 representado possui algumas modificações aftermarket, como explicado na apresentação da miniatura. Ele possui alargadores de para-lamas e um grosso escape traseiro. O aerofólio, apesar de não presente no modelo, por exemplo, do anime "Initial D", era oferecido na versão norte-americana.

Porém, o modelo da HotWheels possui a direção do lado direito, como é em vários mercados mundiais, incluindo o Japão. O interior, apesar de não possuir roll-cage, é todo preparado para competições, com apenas o assento do motorista. E dois cilindros no lugar do passageiro dianteiro, provavelmente cilindros de nitro oxide. O painel tem alguns relevos, simulando os nichos. E destaque para a alavanca do câmbio. A Mattel tomou um cuidado de fazer a representação dos forros das portas, no modelo.

O chassis do modelo, nos modelos até então lançados na mainline, é plástico, com representação simples do modelo. Inclusive do diferencial e cardã. Algo curioso no modelo analisado é o do chassis ser pintado. Base preta, mas pintado em prata com efeito perolizado.

As rodas sempre são do mesmo tamanho, na dianteira e na traseira. E não se trata também de um modelo "Track star", ou seja, projetado para as pistas da HotWheels/Mattel. Porém, foi um dos modelos que adotou as rodas Faster than Ever (eixo com revestimento em liga especial, que faz as rodas deslizarem mais).

A qualidade do casting é boa no geral, não havendo grandes e visíveis emendas. Representaram os faróis de neblina originais e no vigia traseiro, uma representação do limpador de para-brisas traseiro. Curiosamente, há a representação do dianteiro, porém, em posição errada. Sendo a montagem como se fosse a dos carros com direção do lado esquerdo. O limpador traseiro está em posição correta. Não há representação dos retrovisores, lamentavelmente.

Representação da montagem dos limpadores de para-brisa para direção a esquerda. Note também a pequena representação dos faróis escamoteáveis.

Mas a direção a direita
A representação poderia aumentar o tamanho do alojamento do farol escamoteável, sendo pequeno, na proporção geral. E a queda no vigia traseiro, mais retilínea, ao invés da leve curvatura apresentada.

Sobre a pintura, grande parte dos modelos oferecidos até 2016 ofereceram pinturas discretas, sem preocupações com detalhes de pintura de lanternas traseiras e mesmo dianteiras. Houve algumas variações que a luz de posição/seta dianteira eram pintados. Das cores, geralmente sóbrias com variações de preto, branco e vermelho. Além da variação Zamac em 2014. E houve o oferecimento na linha 2015, de um Super Treasure Hunt, na cor vinho, com pneus de borracha tipo "slick", liso.

No geral, a representação deste AE86 pela HotWheels foi bem feliz. Dentro das proporções do modelo real. E semelhante à hoje o papel no qual é conhecido e foi levado à sua tardia glória mundial: as competições de Drift.

Esta miniatura assim como o AE86 real, sofreu um pouco de preconceito por parte dos colecionadores, não raro, encalhando nas prateleiras e nas gôndolas e salvo sua versão Super Treasure Hunt, não costuma atrair a atenção mesmo para trocas e etc. Porém, imagino que com um maior conhecimento sobre o modelo, quem sabe ele não tenha um maior interesse por parte dos colecionadores. E trata-se de mais um nipônico nesta grande leva recente de novos modelos japoneses no catálogo da HotWheels.

Eu, por ser um fã de Corollas, gostei muito deste modelo, sendo um belo representante dos Corollas do mundo, apesar de ser um Corolla bem fora do padrão do carro que hoje conhecido. Apesar de seu relativo esquecimento nos anos em que esteve em produção, hoje é um carro bem carismático e por que não dizer, desejado, dado seus atributos e a fama alcançada nas pistas e no anime.

Curiosidades!
O AE86 foi o último cupê de pequeno porte produzido no Japão com tração traseira. Até a reintrodução do GT86, um cupê vendido pela Toyota (GT86), Scion (FR-S) e Subaru (BRZ) e que foi inspirado no Hatchi-Roku e também em outro modelo histórico da Toyota, o 2000GT da década de 1960.

Subaru BRZ (EUA, 2014)

Os primeiros AE86 tinham rodas aro 13". Depois substituídas por aro 14".

O motor 4A-GE deixou de ser produzido em 2002. Chegou a ter uma versão com comando de válvulas variável (VVTi) além de uma com 20 válvulas. Sempre um DOHC (twin cam). E teve um "filhote" vendido no Brasil, o motor 7A-FE do primeiro Corolla fabricado por aqui. Conhecido como Corolla BR (AE112). Porém este é um motor 1.8 ao invés de 1.6. Mas também 16 válvulas e desenvolve 116cv.

O codinome do atual Corolla (2016) é E160, para os vendidos no Japão (Corolla Axio) e E170 para os demais mercados mundiais. Incluindo o Brasil.

Na HotWheels, em 2014, a coleção "Then and Now" se aproveitou do lançamento em 2013 do Scion FR-S (na verdade, o Toyota GT86 com outro nome) na linha HotWheels e fez uma homenagem, com o AE86 e o GT86.

AE86 e Scion FR-S na Mainline 2014 - "Then and Now"

E um videozinho de um review com o Corolla AE86, na Inglaterra. Este é um Corolla Levin. Note a frente com os faróis fixos.


Bonus:
Uma rápida entrevista com King Drift para o Top Gear.


Abertura da primeira temporada do Initial D ("First Stage") - utilizada até o episódio 19 (inclusive):


Abertura da segunda temporada do Initial D - Second Stage. Vejam o pega dos dois AE86: Corolla Levin (Wataru Akiyama) e o Sprinter Trueno (Takumi Fujiwara).




Um abraço!! E obrigado.
Claudio.

Fontes:

https://en.wikipedia.org/wiki/Toyota_AE86
https://en.wikipedia.org/wiki/Initial_D
https://en.wikipedia.org/wiki/Toyota_AE85
https://www.carthrottle.com/post/this-is-why-the-toyota-ae86-is-so-damn-legendary/
http://www.imcdb.org/vehicle_82835-Toyota-Sprinter-Trueno-AE86-1983.html
http://hotwheels.wikia.com/wiki/Toyota_AE-86_Corolla
http://hotwheels.wikia.com/wiki/FTE
http://www.driftworks.com/forum/drifting-chat/47147-difference-between-ae85-ae86.html
http://initiald.wikia.com/wiki/Toyota_AE85
http://initiald.wikia.com/wiki/Toyota_AE86
http://autozine.org/Archive/Toyota/classic/AE86.html
https://en.wikipedia.org/wiki/Toyota_A_engine#4A
https://en.wikipedia.org/wiki/Toyota_Corolla_(E160)
https://en.wikipedia.org/wiki/Toyota_Corolla_(E170)

Fotos quando com marca d'água, do autor do post. Outras, de fontes externas, citadas nas legendas.

segunda-feira, 4 de julho de 2016

Roubo de parte da minha coleção. HELP!

Boa noite pessoal,

Com pesar, anuncio que roubaram parte da minha coleção na noite de sábado para domingo. Sofremos um assalto em casa e levaram parte da minha coleção 2011, 2012 e 2014. Estavam em três caixas plásticas. Todas elas nas embalagens. Elas são da Mainline.

2011: Premiere, Track Stars, Collector Series.
2012: Track Stars, Collector Series e alguns Thrill Racers
2014: Todas as coleções, de diversas séries. Nem todas completas.

Infelizmente não tenho foto das minaturas e como estavam arranjadas e a única foto que posso fazer agora é via webcam e está horrível. Roubaram minhas câmeras fotográficas e meu celular.



Peço, por favor, informações que possam levar as mesmas. Só não ofereço recompensa, porque o prejuízo foi grande e ainda por cima, estou sem trabalho no momento.

Sou de Osasco-SP.

Desde já, muito obrigado.

Abraços.
Claudio.

sábado, 2 de julho de 2016

1969 Dodge Charger Daytona



E aí pessoal do Garagem!

1969 Dodge Charger Daytona - allpar.com
Clássicos são Clássicos e vice e versa. Ainda mais quando vem com um baita motor ou uma boa história. E porque não as duas coisas?

Hoje vou falar de um dos carros que despertou minha admiração por Muscle Cars. O 1969 Dodge Charger Daytona.

Confesso, até conhecer mais este carro, eu não tinha grande interesse pelos modelos americanos. Eu achava o Dodge Viper exagerado. Quando criança adorava justamente por ser exagerado. Mas fui perdendo o interesse. E nunca fui muito fã de carros antigos. O Daytona foi um divisor de águas do meu pensamento com carros americanos. Assim como o Corvette.

Lembro dele no jogo TestDrive 4, da Pitbull Syndicate/Accolade. Ele era um dos muitos carros do jogo, inclusive, na lista, estavam nomes de peso como o Chevrolet Camaro COPO 1969, o Shelby Cobra 1966, um Corvette Stingray 1970, Chevrolet Chevelle, entre outros mais modernos. Como o Jaguar XJ220, TVR Cerbera, Nissan 300ZX, o recém lançado Corvette C5, enfim.

O TestDrive 4 - wikipedia.org

Porém, entre os carros a desbloquear (com cheat codes), estava lá, o 1969 Dodge Charger Daytona. O que me chamou a atenção? O fato do grande aerofólio na traseira. A frente de tubarão e os faróis escamoteáveis. E ser um carro de rua americano, de 1969, batendo os 320 km/h. Se pensarmos que o jogo é de 1997, 320km/h é uma marca que se hoje impressiona, imagina na época. 

Sobre o Dodge Charger Daytona, como já denuncia, o nome Daytona já diz quais foram as intenções da Dodge ao criar o carro. Justamente competir na NASCAR. Porém em 1967 já se pensava em algo assim, um carro de competição mal disfarçado de carro de rua. E assim, nasceu o Dodge Charger 500. As intenções eram de homologar o carro para ser elegível a competir na Stock car, visto que era necessário pelo menos 500 veículos vendidos para rodar nas ruas e ser considerado stock. E a outra era bater os Fords, especialmente o Ford Torino Talladega. Curiosamente, o Charger 500 nunca competiu, apesar de ter ganhado as ruas. Diz a história que apenas 392 foram vendidos. Outros dizem que foram 500 de fato.

Uma das razões dele não ter ganhado as pistas era o seu comportamento arredio, com a traseira leve (lembrando que ele era tração traseira) e a grande necessidade de potência para ter desempenho. Não parecia problema, mas virou um gargalo, já que usou-se de quase todos os recursos disponíveis e homologados pela NASCAR para gerar potência e ainda não tinha um desempenho satisfatório. Muito provavelmente pelo grande arrasto aerodinâmico. O coeficiente aerodinâmico (Cd) de um Charger original era de 0,5 (estimado). O do 500 era 0,45. Um carro em média hoje tem 0,29-0,35. Uma das modificações do Charger 500 em relação ao Charger 1968 era a grade do Coronet, que gerava menos arrasto. O Charger 1968 original, tinha os faróis cobertos por uma capa eletro-pneumática e ficava escondido sob elas, fazendo a frente, quando não acionados os faróis, totalmente preta. Já o Coronet era mais ortodoxo.

Dodge Charger 500 - allpar.com

Uma das clássicas aparições do Charger 1968 é o em "Bullit" de 1968 e o Charger 440 1968 que persegue o Mustang Fastback de Steve McQueen pelas ruas de San Francisco. Nesta que é considerada a melhor cena de perseguição dos cinemas (toma esta, Velozes e Furiosos). Este Charger 1968 e 1969 são as minhas versões favoritas. Um desenho limpo e o sorrisinho sinistro na frente,

O Charger Daytona foi oferecido por dois anos, modelos 1969 e 1970, como um pacote complementar do Dodge Charger original. Mecanicamente, eram praticamente idênticos aos Chargers originais. Haviam dois motores, o Magnum 440 CID (7.2L) e o Hemi 426 (7.0). Sendo o Hemi muito mais potente (Cerca de 375 bhp x 425 bhp) e mais raro. Dos 503 Chargers Daytonas produzidos em 1969 e 1970, apenas 70 saíram de fábrica com este poderoso motor Hemi. Pelos números reduzidos de produção, as cifras batem em torno das centenas de milhares de dólares. Encontra-se Daytonas por USD100mil. Porém um equipado com um Hemi 426 chega a valer USD300mil. De fato, um carro raro e caro.

O poderoso motor Hemi 426  CID (7.0L) - allpar.com

Como viu-se que somente potência bruta não resolveria o problema de desempenho, aliada a traseira "leve", a Dodge usou mão de recursos aerodinâmicos. A diferença entre o Charger 1969 e o Daytona eram basicamente:

  • A frente afilada feita em fibra de vidro. 
  • Um pequeno spoiler na dianteira. 
  • Um grande aerofólio funcional para downforce extra na traseira e evitar perda de tração.
  • Acabamento liso nas colunas "A" (acredito que em aço inox) de modo a reduzir o arrasto parasita gerado pela superfície apenas pintada. 
  • Janela traseira alinhada à coluna (passou de inclinação de 45° para 22°) e cantos arredondados. Esta modificação na janela reduziu o turbilhonamento e consequentemente o arrasto por geração de vórtices na carroceria. 
  • Um par de "scoops" sobre as rodas dianteiras, tanto para balanço quanto para redução de arrasto. 
  • E alguns ajustes extras de suspensão. 
O Dodge Charger Daytona visto de frente - topcarrating.com
A traseira e seu super aerofólio - topcarrating.com
A título de curiosidade, o aerofólio tinha a altura de 580mm em relação a tampa do porta malas. Aliás, o aerofólio era alto tanto para captar um ar mais livre de interferência aerodinâmica quanto por conta da abertura da tampa. Ele era fixado ao quarto traseiro do veículo. Os perfis laterais usavam o aerofólio NACA 0012 e um aerofólio traseiro tipo "Clark Y" invertido e de ângulo de ataque ajustável em 10°, para cima ou para baixo.

Os "winged Dodges" - allpar.com
Estas modificações fizeram o Charger Daytona ser o primeiro carro da NASCAR a bater os 200mph (320km/h) e o deixaram muito mais estável em relação ao Charger original.

A respeito da aerodinâmica, vale a consulta a este teste, no qual colocaram num túnel de vento, três Dodges: um Charger 1969, um Charger Daytona 1969 e um Charger Hellcat 2015. O teste foi feito a pedido de uma publicação canadense, a Auto Focus.

The 69 Daytona is as slippery as a new Charger Hellcat

O Daytona teve um irmão gêmeo, como era comum entre as marcas americanas do mesmo grupo. O Plymouth Superbird. Porém este foi somente oferecido em 1970. O Superbird era baseado no Plymouth RoadRunner. Por isto vê-se muitos "Papa Leguas" - Road Runners nestes Superbirds.

Plymouth Superbird 1970 - allpar.com
O que se vê, no interior do Daytona, pouco se lembra de um carro de corridas. Se compararmos aos modelos europeus, o carro lembra mais um carro de passeio comum do que um carro de corridas. Se compararmos aos hoje Porsche 911 GT2/GT3 ou as Ferraris serie Challenge (F355, F360, F430, F458), carros de corrida homologados para a rua, aparentemente o Daytona de rua tinha mais intenções de um impacto visual do que um de performance. Porém, como disse e como é possível constatar, aparentemente...

Interior do Dodge Charger Daytona - topcarrating.com
Apesar de todo o acabamento presente, sem alívio de peso, ausência de itens de segurança como roll bars, cintos de quatro pontos, cintos de competição ou mesmo bancos de competição, todas as modificações do Daytona, em relação ao Charger original, foram bem-vindas e friamente calculadas. Tanto que algumas destas foram adotadas na geração posterior, no 1971, como as janelas alinhadas. Acredito que até pela facilidade de produção.

O Dodge Charger, como cita a Quatro Rodas de 1996, numa edição especial, representou "o auge da corrida de cavalos disputada entre os fabricantes norte-americanos no final dos anos 60. Bons tempos em que o galão de gasolina custava dez centavos, os americanos tinham dólares sobrando (como nunca) e motor era o que contava para quem planejava comprar um carro". Se o Charger 1968 representou isto, o Charger Daytona foi a cereja do bolo, juntando performance nunca vista em um carro de série americano, um visual único e ainda, exclusivo a 503 felizes compradores.

O Daytona HotWheels



Este é um dos exemplos de HotWheels que tiveram reformulações da matriz ao longo da sua produção na Mattel. Porém, neste caso, ele chegou a ter a produção interrompida e posteriormente retomada. A sua primeira aparição é na mainline 1996, com licença em 1995. Foi desenhado por Michael Kolins, responsável pelo design das Ferraris dos anos 1990. Este molde esteve em produção entre 1996 e 2003, quando ganhou um "Final Run".

Porém, o Daytona retornou a linha em 2013, com um novo casting, desta vez sendo retratado como 1969. Obviamente há diferenças entre estes dois castings. Até na abordagem de ambas. Farei um comparativo dos dois. Felizmente, tenho os dois na coleção. Os da avaliação são um da Mainline 1996 (vermelho) e um da Mainline 2016 (verde).

Uma observação é a de que certa forma, o carro é importante para a indústria automobilística americana. Durante anos ele deteve o record de carro de produção mais rápido dos EUA. De 1970 até 1983, sendo superado em apenas 1mph. Virou um ícone, atingindo autos valores em leilões, sendo assim, bastante desejado. Porém, apenas em 1996, ou seja, 27 anos depois, ganhou uma miniatura HotWheels. Royalties, copyrights? Não sei, mas, a meu ver demorou para vir uma miniatura de um carro desta importância.







O Daytona original tinha as seguintes dimensões:
Entre eixos: 2972mm
Comprimento: 5753mm
Largura: 1954mm
Altura: 1350mm (sem o aerofólio)

Numa miniatura 1:64, ele teria as seguintes dimensões:
Entre eixos: 46,4mm
Comprimento: 89,9mm
Largura: 30,5mm
Altura: 21,1mm (sem o aerofólio)

Na escala 1:66 o Daytona teria:
Entre Eixos: 45mm
Comprimento: 87,2mm
Largura: 29,6mm
Altura: 20,5mm

A matriz 1996 do Daytona tem as seguintes dimensões:
Entre eixos: 45mm
Comprimento: 84,6mm
Largura: 29,2mm
Altura: 19,3mm (sem o aerofólio) e 23,5mm (contando o aerofólio)

A matriz 2013 tem as seguintes dimensões:
Entre eixos: 45,2mm
Comprimento: 85,7mm
Largura: 30mm
Altura: 22,4mm (sem o aerofólio) e 27,1mm (contando o aerofólio)

Ambas se aproximam mais de miniaturas 1:66, mas nenhuma de fato se aproxima das dimensões reais do Dogde em tamanho real.


O Daytona 1996 fez uma reprodução do carro "stock", com as saídas duplas do escapamento pela traseira, rodas em mesmo tamanho. Já o 2013, optou por reproduzir as saídas do escapamento pela lateral, em um grosso cano de escape. Além das rodas traseiras maiores, apesar dos pneus originais serem do mesmo tamanho na dianteira e na traseira.

Da fabricação, a carroceria de ambos são de liga metálica pintada (zamac), chassis plástico cromado, rodas de plástico (Saw Blade no 1996 e PR5 no 2016) e interior em plástico. Nota-se que a matriz de 1996 possui falhas no casting, percebida na borda da janela traseira e dianteira. Há algumas emendas mais grosseiras que a de 2013, especialmente na região da junção do quatro traseiro com a coluna C e sob o aerofólio. Ambos possuem esta emenda, mas no 1996 chega a ser grosseira, para não falar de baixa qualidade. Os detalhes de carroceria do 2013 também são melhores definidos, com os contornos mais bem acabados.

Emenda sob o aerofolio do casting 1996.

Nesta lista de melhores detalhes do 2013 entram:

  • Contorno das janelas, especialmente a do vidro traseiro. 
  • Contorno do capô e "churrasqueira", mais fiéis.
  • Maçanetas das portas. 
  • Vinco no capô.
  • Pequena grade dianteira. 
  • Tomadas de ar no capô.
  • Uma reprodução dos limpadores de para-brisa.


Comparação das janelas traseiras dos Chargers 1969. A esquerda, um 1969 R/T. Note a diferença na janela em relação aos Daytonas.

Mas isto não é, exatamente um ponto positivo. Alguns dos detalhes ficaram irreais ou fora do lugar. Por exemplo: as luzes de posição/repetidor de seta no 2013 estão melhor definidas, mas são fora de lugar. No 1996 está bem na ponta do paralamas, na junção com o aplique aerodinâmico dianteiro, como é o real. No 2013, está no meio desta porção dianteira do paralamas, assemelhando-se mais ao Superbird.

Outro exemplo, os contornos do paralamas, simulando os frisos cromados, no 1996 não existem, no 2013 estão exagerados. No Daytona real eles são bem discretos, fazendo o do 1996 parecer mais real.

A tomada de ar sobre o paralamas, para a refrigeração de freios, pneus e melhoria aerodinâmica. No 1996 são mais discretos, menos definidos e não parecem tão aerodinâmicos como é apresentado no 2013. Porém, são mais próximos do real. Um detalhe curioso é o da reprodução da moldura do quebra-ventos no 1996, com direito a réplica do vidro. No 2013 apenas o vidro é reproduzido. Sobre as reproduções dos vidros, ambos utilizam-se de plástico transparente.



Ambos possuem o aerofólio grosso demais. Creio que até pela dificuldade de se reproduzir em uma espessura mais fina. Está aí um ponto que os técnicos e engenheiros da Mattel poderiam quebrar um pouco a cabeça. Nenhuma das versões reproduziu retrovisor. Creio que, pela posição dos mesmos no original ser nas portas, ficaria estranho e de baixa qualidade numa miniatura 1:64. E nenhuma das duas versões se preocupou em reproduzir os fechos rápidos do capô, presentes no original. Parece apenas um detalhe, se a Mattel não já tivesse reproduzido este detalhe no '67 Shelby GT-500, lançado em 2010. Ou no '65 Mustang Fastback de 2008.

Vista traseira dos Daytonas. Notem os aerofólios grossos demais. E a diferença no casting. Metal no 1996 e Plástico no 2013.
A pintura de ambos é de boa qualidade, mas no 1996, a parte inferior ou o "intradorso" do aerofólio está quase sem pintura. No 2013, ela é uniforme. Ambos, a meu ver, optaram por pintura de bom gosto. O vermelho é um clássico. O verde, apesar de oferecido, não era metálico e tinha tom mais escuro. E não era disponível este layout da faixa preta. Apesar de ficar muito bom na miniatura. Ambos não se esqueceram do "Daytona" pintado nas laterais. Possuem os logos da HotWheels - o 1996 apenas na direita e o 2016 em ambos os lados. Com um Dodge extra, ornamentando as faixas pretas. O 2016 teve a preocupação de pintar os repetidores laterais e também as maçanetas.

Sobre o interior, naturalmente o Dodge Charger possuiu um interior espartano, sem excessos. O 2013 possui, como esperado, uma reprodução melhor. Infelizmente não há fotos do interior mais detalhado e tampouco fotos dos dois desmontados, para facilitar a visualização.
Os bancos do 2013 tem uma melhor reprodução dos encostos de cabeça, do padrão do estofamento e uma preocupação em reproduzir o nicho do painel. Curiosamente, a posição da alavanca de câmbio do 1996 está em posição mais correta, independente da reprodução ser do câmbio manual ou do Torqueflite.

A parte inferior, do que foi possível observar no modelo original, o 1996 se aproxima mais. Aliás, a parte inferior do 2013 é bastante distorcida, primeiro por uma reprodução extremamente exagerada das bandejas de suspensão dianteiras. Fazendo quase uma "parede" no chassis. E a traseira, um grande ressalto para acomodar o eixo traseiro. O 1996 é mais discreto. A avaliação de fidelidade, a meu ver, pela falta de vistas inferiores do Daytona fica prejudicada, mas do que vi, o modelo 1996 me agrada muito mais, visualmente. Uma boa solução que foi adotada no 1996 foram as rodas embutidas a carroceria no 1996, fazendo a bitola ser mais curta e assim, pode-se baixar um pouco a carroceria, evitar soluções exageradas para acoplar as rodas e o resultado visual foi muito mais agradável.



Conclusão

Apesar do 2013 ser tecnicamente mais bem feito nos seus detalhes e acabamento, considero o Daytona casting 1996 mais fiel ao original. Certa forma até mais agradável visualmente. Ele parece mais uma réplica e menos um brinquedo. Minha opinião, o ideal seria um HotWheels com as proporções e maior fidelidade aos detalhes do 1996 com a qualidade de construção do 2013. Gosto muito dos detalhes adotados no 2013, como as luzes indicadoras pintadas e a preocupação com detalhes.

No final, sou mais inclinado ao 1996, pela maior fidelidade. De ter menos cara de brinquedo. Porém, acredito que este é um modelo que os admiradores de Muscle Cars ou de carros americanos deva possuir na coleção.


Bônus!

A Mattel também produziu o Plymouth Superbird, lançado em 2006. Tornou-se bastante presente na Mainline, ganhando inclusive uma versão Super em 2015, muito cobiçada, pela representação da pintura de um Superbird de competição.



Para você que chegou até aqui, sinta um pouco o que é o Daytona 440 neste vídeo no Youtube.



Curiosidades!
O Daytona deteve por muitos anos o record de menor coeficiente aerodinâmico entre os carros americanos produzidos em série. Apenas 0,28.

Os freios do Daytona eram a tambor. Dianteiros e traseiros. E eixo rígido com feixe de molas na traseira.

Na HotWheels, o primeiro casting do Dodge Charger Daytona foi sempre tratado como 1970 Dodge Daytona, apesar de o Daytona original ser lançado em 1969.

O Daytona utilizado por Vin Diesel no Fast and Furious 2013 na verdade era uma réplica e não um Daytona original.

E no ano de saída do Daytona da mainline, em 2003, houve uma versão "tooned" lançada, em seu lugar. Desenhada por Mark Jones. Esta ainda está em produção, apesar da sua última aparição ser de 2010.

HotWheels.wikia
Negócios!
Tenho um 2013 "Fast and Furious" para troca. Na embalagem.
[Atualização] Kit dos 5 Fast and Furious vendido! :D

Fontes:
https://en.wikipedia.org/wiki/Test_Drive_4
http://www.ign.com/articles/1997/11/04/test-drive-4-2
https://myclassicgarage.com/marketplace/knowledge_base/1969-dodge-charger
https://en.wikipedia.org/wiki/Dodge_Charger_(B-body)
http://www.roadandtrack.com/car-culture/classic-cars/a29285/dodge-charger-500-nascar-history/
http://www.allpar.com/model/superbird.html
http://www.caranddriver.com/features/aero-warrior-bending-the-rules-page-1
http://www.popularmechanics.com/cars/g790/10-surprising-facts-about-american-muscle-cars/
https://en.wikipedia.org/wiki/Dodge_Charger_(B-body)
http://auto.howstuffworks.com/1969-dodge-charger.htm
https://www.netcarshow.com/dodge/1969-charger_daytona/
http://www.automobile-catalog.com/car/1969/635960/dodge_charger_daytona_426_v-8_hemi_4-speed.html
http://www.topcarrating.com/1969-dodge-charger-daytona.php
http://www.autofocus.ca/news-events/features/the-69-daytona-is-as-slippery-as-a-new-charger-hellcat